O papel do risco em decisões jurídicas num contexto de recursos escassos

Autor(es): Maria Eduarda Graff
Orientador: Lucas Mateus Dalsotto
Quantidade de visulizações: 163

O PAPEL DO RISCO EM DECISÕES JURÍDICAS NUM CONTEXTO DE RECURSOS ESCASSOS
Inseridos em um sistema jurídico de civil law, no Brasil, consideramos direitos, primordialmente, aquelas aspirações tipificadas nas normas escritas. Contudo, a transcrição de uma pretensão não garante a efetiva defesa deste bem jurídico. A proteção de um direito envolve, também, a atuação direta do Estado no manejo de instrumentos para imposição dos deveres decorrentes destes direitos. Ocorre que, tais mecanismos têm um custo alto para o Estado - o qual trabalha com recursos limitados para destinar à efetivação de todas as pretensões que lhe são demandadas. Dessa forma, o fenômeno da escassez impõe vários dilemas morais para juristas, legisladores e gestores que precisam decidir com base em probabilidades e estatísticas, e, portanto, em cenários de risco. Neste contexto, o objetivo deste projeto é discutir e explicar o papel que o problema do risco em contextos de tomadas de decisões jurídicas desempenha em uma vida social constituída por recursos escassos. Assim, por meio de análises jurisprudenciais e doutrinárias, ele visa apontar os critérios normativos principialistas ou agregracionistas que guiam as decisões judiciais brasileiras no enfrentamento das demandas envolvendo alocação de recursos públicos e suas implicações sobre interesses individuais, coletivos e difusos. Afinal, em que pese objetive enfrentar as demandas com olhar imparcial e técnico, o judiciário não atua em um vácuo fático. Pelo contrário, está inserido num contexto de restrições orçamentárias que não pode deixar de ser considerado, já que é condição para a efetividade de sua atuação. Essa preocupação está cada vez mais visível em decisões proferidas pelos tribunais, que levam em conta em sua fundamentação, o poder financeiro estatal para a aplicação das determinações impostas. Pois, não sendo possível calcular com acurácia preditiva os efeitos e consequências de decisões judiciais, é necessário incorporar a variável do risco nas ponderações que enquadram normativamente essas escolhas e decisões. Neste cenário, teorias agregacionistas ganham força na interpretação de dispositivos e na fundamentação de decisões que auferem ampla análise ao contexto orçamentário em que serão aplicadas as normas. Por certo, o prisma de interpretação, qualquer que seja, tem reflexos na priorização dos interesses tutelados. Dessa forma, a escolha por teorias coletivistas demonstra a consciência contextual dos tribunais em suas decisões envolvendo dilemas inseridos no risco e escassez.

Palavras-chave: Risco , Escassez, Normatividade