Autor(es): Pablo Corso , Emanuelle Amaral Seben, Emily Gabriele Reis da Silva,
Orientador: Raquel Furtado Conte
Quantidade de visulizações: 193
As florestas tombam em golpes de serra. Os rios, envenenados. As árvores, queimadas. As mulheres, marcadas para inflamar, como bruxas, silenciadas, como loucas, confinadas ao lar, como cristais. São histórias entrelaçadas, violências inscritas pela mão patriarcal sob dicotomias de exploração: natureza/cultura, mulher/homem, hierarquias violentas intensificadas pelo Antropoceno, período histórico em que vivemos desastres ambientais frutos da exploração do capital e da colônia. Tais dicotomias provocam, entre intersecções de vulnerabilidades de gênero, raça, classe e território, a violência contra a mulher. O ecofeminismo surge como crítica a tais dicotomias, partindo da noção de que o mundo que nos ronda é vivo e que encontra no fazer-saber comunitário das mulheres uma alternativa às violências patriarcais, como na ética do cuidado, vista no grupo de mulheres quebradeiras de coco-babaçu, que busca a construção de um senso comunitário e laços de cuidado com pessoas humanas e não-humanas. Esta pesquisa de delineamento qualitativo, de tipo exploratório e descritivo, objetiva construir novas formas de subjetivação de mulheres em situação de violência de gênero pela ótica do ecofeminismo e da ética do cuidado. A metodologia baseia-se no uso de oficinas como espaços de diálogo e construção de sentidos, além de instrumento para coleta de dados e articulação entre teoria e prática, com base em Spink, Menegon e Medrado. As oficinas consistiram na exploração de retalhos para a criação de acessórios, tecendo o autoconhecimento, o cuidado de si e do outro. Foram organizadas em nove encontros e realizados após sessões grupais com mulheres em situação de violência de gênero atendidas pelo Serviço de Psicologia Aplicada (SEPA) da Universidade de Caxias do Sul (UCS), mediadas por uma voluntária de povo tradicional e registradas em um diário de campo. Como resultado, observou-se que as oficinas proporcionaram espaços de autocuidado, produção de saberes e construção de laços afetivos, além de acesso a informações. No entanto, a baixa adesão e a ausência de mulheres negras foram desafios para as atividades. Conclui-se que as oficinas, como espaços de construção de subjetivações outras, encontram na ótica do ecofeminismo um caminho não só para a superação da violência, mas para analisar como a baixa adesão e a ausência de mulheres negras evidenciam, mais uma vez, o retrato do patriarcado, do capitalismo e do colonialismo na relação natureza e mulher.
Palavras-chave: Ecofeminismo, Violência de gênero, Ética do cuidado