Decolonização do Conhecimento e Saberes na Obra "Epistemologias do Sul"
Autor(es): Julia Eduarda Girotto
Orientador: Alexandre Cortez Fernandes
Quantidade de visulizações: 153
O presente trabalho investiga, a partir da obra
Epistemologias do Sul (2019), como o pensamento moderno ocidental se constrói a partir de uma lógica de exclusão radical, estruturada por uma “linha abissal” que separa o mundo social em dois universos: De um lado, os sujeitos reconhecidos como produtores de conhecimento e de direitos; do outro, os que são considerados inexistentes, irracionais ou fora da lei. O objetivo de tal investigação visa analisar como essa linha - ora visível, ora invisível - sustenta uma divisão entre regulação/emancipação e apropriação/violência, produzindo uma hierarquia epistêmica e jurídica que marginaliza saberes, práticas e sujeitos localizados nos territórios coloniais. Metodologicamente, o estudo se desenvolve por meio de análise bibliográfica qualitativa e teórico-conceitual, centrada nas contribuições de Boaventura de Sousa Santos e na crítica ao pensamento abissal moderno. Os resultados apontam que essa divisão persiste nas estruturas contemporâneas de conhecimento e direito, invisibilizando saberes indígenas, populares e locais, ao mesmo tempo em que sustenta formas de colonialismo atual. A principal conclusão é a de que não haverá justiça social global sem justiça cognitiva global, sendo fundamental o desenvolvimento de um pensamento pós-abissal que valorize uma ecologia de saberes, reconhecendo a diversidade epistemológica do mundo. A construção epistemológica de tal ecologia, no entanto, não é tarefa simples, exige um programa de pesquisa aberto, capaz de identificar critérios plurais para distinguir entre formas de conhecimento, tradução intercultural e resistência contra epistemologias hegemônicas. Como toda ecologia, esse pensamento é feito de perguntas sem respostas definitivas e exige reconhecimento da incompletude e da conflitualidade dos saberes. Assim, enfrentar as linhas abissais requer não apenas resistência política, mas também uma articulação em torno da reflexão sobre como transformar a ecologia de saberes em prática concreta de resistência e reexistência diante das exclusões produzidas pelo pensamento abissal.
Palavras-chave: Colonialismo, Ecologia de saberes, Epistemologia