Práticas de cura e feitiçaria: um processo crime como fonte para a percepção das culturas de origem africana no Brasil oitocentista
Autor(es): Marcelo Henrique Martini
Orientador: Roberto Radunz
Quantidade de visulizações: 206
Este estudo propõe investigar as representações sociais da feitiçaria e das práticas culturais de matriz africana no Brasil oitocentista, a partir da análise de um processo-crime tramitado entre 1873 e 1874 na Freguesia de Conceição do Arroio, província do Rio Grande do Sul. O caso trata do julgamento de Antônio de Medeiros, homem branco livre acusado de assassinar o escravizado Francisco, a quem atribuía a morte de sua esposa e de seu filho por meio de feitiços.
Utilizando como fonte primária a transcrição integral do processo, a pesquisa busca compreender como práticas de cura, adivinhação e simpatias de origem africana eram interpretadas, temidas e eventualmente mobilizadas para justificar atos extremos de violência por parte de indivíduos livres. A leitura crítica dos depoimentos revela a ambivalência com que tais práticas eram vistas: ao mesmo tempo marginalizadas e temidas, reconheciam-se nelas uma potência simbólica capaz de explicar doenças, mortes e desgraças familiares. Ao evidenciar esse caso singular, a pesquisa objetiva contribuir para o debate historiográfico sobre a circulação de saberes afro-brasileiros, os limites da racionalidade jurídica imperial e as tensões entre senhores, libertos, escravizados e autoridades em torno de práticas que escapavam ao controle do direito escrito, mas atuavam no imaginário social.
Palavras-chave: Feitiçaria, Cultura afro-brasileira, Processo crime