Sob pressão: o desafio da conservação de samambaias endêmicas do bioma Mata Atlântica frente às mudanças climáticas futuras

Autor(es): Gabriel Augusto Koch , Fernanda Pessi de Abreu, Isadora Vieira Quintana, Caroline Turchetto, Felipe Gonzatti,
Orientador: Felipe Gonzatti
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A Mata Atlântica possuí características geográficas e climáticas que favorecem altos níveis de endemismo. Entre suas espécies endêmicas, destacam-se samambaias do gênero Hymenophyllum, cuja distribuição está fortemente associada a condições microclimáticas específicas, tornando-as vulneráveis às mudanças climáticas. Diante disso, este trabalho teve como objetivo modelar a adequabilidade de nicho ecológico para espécies de Hymenophyllum endêmicas da Mata Atlântica, projetando áreas potenciais de ocorrência sob cenários futuros de mudanças climáticas. Foram selecionadas as espécies Hymenophyllum caudiculatum, H. delicatulum, H. megachilum, H. rufum, H. sturmii, H. venustum, H. vestitum e H. viridissimum. Os registros de ocorrência foram obtidos das plataformas Reflora, SpeciesLink e revisões taxonômicas, e os dados climáticos foram extraídos do WorldClim. Para as simulações climáticas futuras, foram considerados cenários projetando aumentos na temperatura média global, variando de 1,5-2,0°C (otimista) a cerca de 4-5°C (pessimista). As projeções foram realizadas no software R, utilizando o modelo climático MPI-ESM1-2-HR para os períodos de 2061-2080 e 2081-2100. As áreas climaticamente adequadas nos cenários atual e futuros foram sobrepostas aos limites das unidades de conservação federais (UCs). As projeções do presente mostram compatibilidade com a distribuição geográfica conhecida das espécies. As projeções futuras indicam acentuada redução na adequabilidade climática para todas as espécies analisadas. Atualmente, a área total de adequabilidade climática para o grupo de espécies é de aproximadamente 586 mil km², sendo apenas 43 mil km² dentro de UCs, o que representa apenas 7% da área protegida. Em cenários futuros, projeta-se que, até o final do século, a área total de adequabilidade climática será reduzida em até 20% no cenário otimista e em até 50% no cenário pessimista, em comparação com a área atual. Quanto às áreas localizadas dentro das UCs, a cobertura também diminui, projeta-se que apenas 5% da área total de adequabilidade permanecerá protegida no cenário otimista, e apenas 4% no cenário pessimista. Espécies como H. viridissimum, que atualmente apresentam distribuição restrita, tendem a ser severamente impactadas, com uma redução estimada de até 97% na área total. Já H. rufum, mesmo com 68% da área atual dentro de UCs, poderá ter apenas 2% protegida até 2100 no cenário pessimista. Assim, as UCs existentes na Mata Atlântica mostram-se insuficientes para assegurar a conservação das espécies, reforçando a necessidade de estratégias que considerem projeções futuras para garantir sua permanência e proteção da biodiversidade.

Palavras-chave: Unidades de Conservação; Modelagem de nicho ecológico; Samambaias; Endemismos; Hymenophyllaceae.