Racismo e biopolítica no debate pós colonial

Autor(es): Carlos Eduardo Waechter
Orientador: André Brayner de Farias
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Racismo e biopolítica no debate pós colonial
A problemática do racismo é certamente um tema complexo e multifacetado, permitindo variadas abordagens. No caso do Brasil, somos herdeiros de uma história onde o racismo foi desde sempre, mesmo antes do tráfico negreiro, nossa técnica social e política constitutiva. Mas é preciso analisar o fenômeno no contexto da história da modernidade para salientar que o projeto colonialista como base estruturante da acumulação primitiva do capital, forjou o modelo social do chamado novo mundo. De nosso ponto de vista, a colonialidade e sua lógica racializante é o outro nome da modernidade. Mas é preciso cuidar para não restringir o racismo ao contexto estrito da colonização. Em outras palavras, é preciso pensar a colonização como projeto racial e eugênico essencialmente vinculado à lógica da acumulação capitalista e, portanto, à história do liberalismo. O racismo é filho legítimo da modernidade biologizante, capitalista e liberal. A presente pesquisa tem como foco o estudo do racismo através da ótica da biopolítica elaborada por Michel Foucault. Trata-se de uma metodologia analítica e genealógica que busca tratar o tema em sua complexidade histórica e em sua múltipla matriz referencial. Por essa perspectiva observam-se as formas governamentais sobre a vida, a política do fazer viver e do deixar morrer. A biopolítica é o governo que executa um processo seletivo da população, promovendo tanto a vida quanto, indiretamente, a morte. Achille Mbembe nomeia de necropolítica o governo da morte. As formas do necropoder se evidenciam pelo controle físico, geográfico e militar, tal como pelo controle e repressão da mentalidade. Como exemplo, podemos citar tanto o encarceramento em massa dos jovens negros, que no Brasil e nos EEUU está diretamente relacionado à política de guerra às drogas, quanto o modelo policial-militar de intervenção em conflitos nas favelas brasileiras, que muito frequentemente redunda no genocídio da população negra, deliberado e justificado pelas forças governamentais. As modalidades de opressão transitam em variadas configurações, mas sempre com o mesmo intuito de regulamentar ou normatizar a vida e justificar a morte. Dito isso, concluímos que o racismo é um dispositivo biopolítico de seleção de corpos expostos ao deixar morrer.

Palavras-chave: racismo, biopolítica