O CALDEIRÃO DA BRUXA E A RECEITA PARA A DIABOLIZAÇÃO DA MULHER: UMA ABORDAGEM FEMINISTA.

Autor(es): Alexia Valmini
Orientador:
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O CALDEIRÃO DA BRUXA E A RECEITA PARA A DIABOLIZAÇÃO DA MULHER
O tema proposto é a caça às bruxas, movimento europeu de perseguição religiosa e política, que implicou em uma reorganização da imagem da mulher e de seu lugar na estrutura social. A produção da imagem da bruxa e as consequências desse período histórico para além da fogueira mostram-se relevantes ainda hoje, pois essas queimaduras repercutem na forma de cicatrizes subjetivas e sociais através de salários inferiores, da objetificação do corpo e em outros tipos de violência contra a mulher. O objetivo desta pesquisa é analisar as condições de produção da bruxa europeia intercruzando com rituais das mulheres de etnia brasileira tupinambá, a partir do olhar do invasor europeu para produzir uma dupla imagem associada: de mulher e do colonizado. Este estudo parte da narrativa proposta nos livros: “Calibã e a Bruxa”, da pesquisadora italiana Silvia Federici e “Imagens da Mulher no Ocidente Moderno”, da pesquisadora brasileira Isabelle Anchieta. Com a leitura de Silvia Federici, observa-se que as mulheres perseguidas eram aquelas que possuíam conhecimentos medicinais e saberes sobre contracepção e, por isso, ocupavam uma posição social de poder. Também eram perseguidas aquelas que desfrutavam de sua sexualidade para além do casamento ou da procriação. Assim, notar-se-á que os conhecimentos ancestrais de cura que compartilhavam entre si e o controle sobre sua reprodução lhe foram arrancados por noções de poder e de controle. Aos poucos, a deslegitimação da mulher significou a exclusão de cargos de trabalhos e o confinamento ao papel reprodutivo. Na leitura de Isabelle Anchieta, encontra-se uma descrição das mulheres de etnia Tupinambá, que segundo o olhar do invasor europeu eram canibais e manejavam grandes caldeirões onde cozinhavam prisioneiros inimigos. A autora identifica elementos extraídos dos rituais Tupinambás brasileiros que vão compor a descrição dos afazeres das bruxas europeias. Fatores intercontinentais que se entrelaçam na composição do clima de desconfiança e medo generalizado que levava a denúncias, torturas, confissões e à fogueira. Esse estudo conta com o dispositivo teórico-analítico-metodológico da Análise do Discurso proposta por Michel Pêcheux, que se apoia em três grandes campos do conhecimento para produzir interpretações: a psicanálise, a linguística e o materialismo histórico. Os conceitos que dão suporte para análise das sequências discursivas retiradas das obras são: formação imaginária, pré-construído e memória discursiva.

Palavras-chave: feminismo, análise do discurso, caça às bruxas